Caríssimas pessoas preocupadas com a Eja,
Agradecemos as centenas de moções/apoios, formais e informais, escritos e verbais, de entidades e pessoas físicas, em relação ao que denominamos PERSEGUIÇÃO POLÍTICA A PROFESSORES E INTIMIDAÇÃO A ESTUDANTES DO PEJA, em especial aos/as estudantes que nos enviaram cartas/mensagens. Ficamos profundamente sensibilizados por tais manifestações de carinho, apreço, reconhecimento do trabalho que realizamos e a fundamental solidariedade de classe.
Em resumo, conseguimos sustar, ainda que provisoriamente, o desejo de impedir a condução do nosso trabalho na escola, através da nulidade do relatório que a direção apresentou, em razão de falha no trâmite administrativo para o término de requisição, conforme alegado por representantes da SME. No entanto, o dossiê, em que sustentamos a perseguição política e intimidação aos estudantes, ainda não foi apreciado em sua totalidade e segue seu trâmite junto a ouvidoria. Esperamos que ele tenha um desfecho coerente com o que foi discutido na reunião com a 3ª CRE.
Ao nos defender da perseguição política que sofremos, bem como das intimidações aos nossos estudantes, refletimos bastante, nesse período em que não gozamos “férias”, acerca do que poderia ter evitado essa situação. Por isso, apontamos como essencial para o trabalho junto a Eja, os seguintes aprendizados:
- Sabemos que a eleição direta para diretor de escola, bem como as instâncias (institucionalizadas) de participação social, foram grandes conquistas. Todavia, tais avanços democráticos nas escolas básicas não foram suficientes para garantir as discussões políticas necessárias aos processos civilizatórios mais amplos, tão pouco para subverter a “negação da política” (amplamente difundida em tempos atuais).
- Em um salutar ambiente dialógico, entre profissionais de educação, para se fazer uma crítica (consistente), há que argumentar, a partir de algum lastro teórico, e não simplesmente contestar por contestar.
- Os/as estudantes, no que se refere ao processo de construção de um jornal “estudantil” (não escolar), demonstraram extrema cautela em suas produções textuais, no sentido do respeito interpessoal e no compromisso ético e verdadeiro.
- As atas devem ser a exata expressão do que aconteceu na reunião, portanto devem ser lidas, corrigidas e assinadas no mesmo dia, preferencialmente em meio eletrônico (para facilitar o trabalho do relator).
- As “atas” dos CE devem seguir uma lógica de relatoria que contemple mais o processo ensino-aprendizagem. Devem conter a síntese dos aprendizados efetivamente discutidos. Não precisam ser assinadas, mas devem ser aprovadas no CE seguinte, cujo tempo de maturação pode ajudar na relação entre teoria e prática. Devem ser disponibilizadas para todos/as, principalmente para os/as que não participaram do CE.
- A direção da U.E., ou quem esteja coordenando a reunião, deve ficar atenta ao perceber que algum participante está calado, deve sempre perguntar a esse colega a sua opinião frente ao assunto em pauta, na tentativa de agregá-lo as discussões ou entender (e tentar resolver) o motivo de sua “ausência” nas discussões, promovendo o devido registro sistemático em ata. Nesse sentido, tão importante quanto garantir a fala dos participantes, na ordem de inscrição, sem interrupções, deve também interromper a fala/reunião até que todos/as estejam realmente exercendo a devida escuta atenta. Ninguém deve atender o celular (ou passar mensagens), no momento da reunião, dentro da sala, principalmente quem estiver coordenando a reunião.
- Apoio incondicional ao movimento estudantil do Peja, independente da matriz ideológica, bem como não tratar de “crime/judicialização” no ambiente escolar.
- Não confundir projeto político pedagógico (PPP) com projeto pedagógico anual (PPA).
- A semelhança dos instrumentos administrativos que estabelecem critérios/orientações para Professor Orientador e Professores do Peja, a SME poderia também formalizar algumas atribuições para as direções das U.E. (Diretor Geral, Diretor Adjunto e Coordenador Pedagógico) no Peja, tais como:
- Envidar esforços em articular o Peja ao PPP da escola, ciente de que essa modalidade exige que tenhamos uma visão crítica da sociedade e dos processos de exclusão gerados pela desigualdade social;
- Garantir a participação plena da comunidade escolar, inclusive dos alunos jovens, adultos e idosos, em reuniões/assembleias, buscando a inserção do Peja no PPP da escola, em todas as suas etapas: metodologia, elaboração, implementação e avaliação;
- Estimular a participação ativa de representante(s) da Unidade Escolar – U.E. em reuniões de formação agendadas pela E/SUBE/CRE e/ou E/SUBE/GEJA, relacionadas ao Peja;
- Garantir espaço para avaliação (coletiva) do trabalho realizado no Peja da U.E., ao longo do ano letivo, onde professores e direção da U.E. tenham condições de sinalizar aspectos que porventura não estejam em concordância com os documentos norteadores do Peja. Compreendendo que o resultado desse trabalho é de responsabilidade de todos, portanto o aluno não será o único a ser avaliado, mas todos os profissionais envolvidos. As reuniões para avaliação deverão ser registradas em ata;
- Promover uma melhor articulação entre o trabalho dos professores do Peja I com os do Peja II, bem como dos professores de Artes, Educação Física e Língua Estrangeira com as demais disciplinas, de modo a constituir-se uma única equipe do Peja, buscando um trabalho cooperativo e solidário;
- Apoiar iniciativas que dizem respeito ao protagonismo estudantil, como manifestações culturais ou organizativas (Grêmio Estudantil, Jornal Estudantil, Clubes de Ciências/Leitura, etc.);
- Se fazer presente, ainda que não fisicamente, nos horários e atividades que envolvem o fluxo dos alunos do Peja, durante as atividades escolares coletivas, bem como dos momentos de estudo dos professores, dentro da U.E. Ciente da necessária disponibilidade para o diálogo e à reflexão em todas as situações referentes ao trabalho no Peja;
- Ter ciência que sua função é eminentemente de gestão (democrática), com forte impacto nas questões pedagógicas que envolvem o Peja;
- Buscar articular parcerias com outras instituições sociais, de modo a favorecer um desenvolvimento integral desse aluno, seja em termos de atividades culturais e/ou de saúde;
- Coordenar assembleias periódicas com os alunos sobre o funcionamento do PEJA, avaliação, propostas e compromissos, para um melhor desenvolvimento do trabalho;
- Buscar intercâmbio com a equipe da GED/CRE e da GEJA/SME, em relação às demandas de trabalho com os professores e/ou alunos do PEJA, como por exemplo, na organização de palestras, seminários, oficinas, exposições de trabalhos para professores e/ou alunos;
- Participar do esforço coletivo de busca ativa de alunos, procurando mecanismos para aumentar o número de matrículas e diminuir a evasão escolar.
Para todos/as que sofrem algum tipo de perseguição política no ambiente escolar, seja por conta de um cartaz, apoio a um jornal estudantil, e/ou simplesmente ter uma visão de mundo diferente da maioria, esperamos que 2022 seja um ano letivo repleto de boas reflexões coletivas, mas sobretudo de gestão democrática comprometida com a participação política de jovens, adultos e idosos. Continuaremos atentos/as e repetindo o velho dito: “TRABALHADORES DO MUNDO, UNI-VOS!”.