Discurso proferido dia 15 de setembro de 2015, em Ato público na Fiocruz, sete dias após mais um menino ser assassinado em Manguinhos

Foto ato

Fui provocado a refletir sobre o meu papel, enquanto sujeito cultural e histórico, sendo um trabalhador de 45 anos morando em Manguinhos e que exerce a função de professor de ciências de uma escola pública (CIEP JK) aqui ao lado da Fiocruz. Confesso que, individualmente, me reconheço insignificante, frente a todas as violências que sofro. Sou violentado todos os dias, pela escola não ter uma mesa adequada para trabalhar, ter quadros negros danificados, não ter internet, não ter completo o seu quadro de profissionais, etc. Sofro com as guerras de comida no refeitório, uns alunos jogando comida em outros. Sofro com os constantes conflitos e gritarias nos corredores e dentro das salas de aula. Sofro com as dificuldades de aprendizagem dos meus alunos. Sofro com a fuga de alunos pulando o muro da escola, e ainda há quem diga que a solução é aumentar o muro. Sofro com a indiferença de alguns colegas. Sofro ao perceber o quanto a minha escola pode e se esforça para transformar a vida de cada aluno que passa por ela, mas esse seu contexto e o contexto de Manguinhos acaba por encorajar alguns a abandoná-la. Sofro, acima de tudo, com a minha impotência de não garantir que o menino Cristian e tantos outros estivessem dentro da escola no momento dos tiroteios. Mas o que ameniza meu sofrimento é saber que não estou sozinho. Sofremos juntos!!! Se sofremos juntos, por que não lutamos juntos? (já dizia Mafalda). Mas a luta não é para ajudar aos pobres, ou a escola pobre, no sentido de amenizar o sofrimento humano, é assumir o compromisso ético-político da árdua tarefa de lutar contra as desigualdades sociais. Devemos também reconhecer que essas diferenças sociais foram produzidas historicamente, a base de muita ignorância, superstição e tirania, através da ocultação da verdade de que todos somos iguais e devemos gozar dos mesmos benefícios sociais, sem privilégios e regalias de qualquer espécie. Isto implica, para além dos laços fraternos que nos une, reconhecer os interesses e os valores antagônicos dos diversos projetos de sociedade em disputa. Precisamos nos fortalecer cada vez mais. Todos somos trabalhadores! Somos a maioria! Nas palavras de Danilo Gandin, “o plano se faz com o querer, com o saber e com o fazer de todos”. Obrigado! ‎Cristian presente!

 

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