Se os tubarões fossem Homens, eles organizariam a sociedade dos peixes em 2 grupos: peixes menores (nadadores) e tubarões (não precisavam nadar para sobreviver). De tal modo que, os poucos tubarões existentes manteriam, ora através da força e ora através da cultura, um fluxo constante de oxigênio e alimentos (os próprios peixinhos) chegando até eles. Nesse contexto, além dos meios de produção da própria existência, bem como dos peixinhos (maioria da vida aquática), os tubarões dominariam os mares e rios, mantendo as correntes marinhas e fluviais fluindo em seus próprios benefícios. Há quem diga que essa seria a verdadeira natureza dos tubarões, porém nem sempre foi assim. Historicamente, todos os peixes eram herbívoros.
Se os tubarões fossem Homens, eles mandariam peixinhos criarem leis. Tais regras diriam que todo peixe é igual, porém, na prática, os tubarões sempre levariam vantagem, já que eles dominariam os fazedores das leis, os canais de informação e comunicação, as polícias, os exércitos, e a sociedade de modo geral. Inclusive, os peixinhos não desconfiariam da dominação dos tubarões. Os peixinhos acreditariam nessa falsa liberdade, enquanto os tubarões engoliriam pouco a pouco enormes cardumes de peixinhos, que nadariam felizes para suas bocas, cantando “borbulhas de amor”. Nesse mundo de ilusão, os peixinhos duvidariam da ciência, que comprovaria a verdadeira intenção dos tubarões, mas teriam a certeza de que a corrupção e sofrimento é culpa dos PT (peixes-traíras). Também haveria religião, onde os tubarões escreveriam mandamentos, como sendo a vontade do Deus Netuno. Tais mandamentos ensinariam que o sofrimento levaria a vida eterna – na barriga do grande tubarão branco celestial.
Se os tubarões fossem Homens, não iriam de um canto para outro nas correntes dos mares, como todo peixe normal. Eles andariam em luxuosos iates, para não se misturar com a massa dos peixes. Afinal, alguns peixes nem acreditariam em tubarões, já que os tubarões ficariam escondidos no PL (paraíso liberal) ou no NOVO (naufrágio de oportunidade para vender opiniões), situados nas fossas abissais. Os peixinhos (doces) dos rios disputariam com os peixinhos (salgados) dos mares, para ver quem nadaria mais rápido. Os tubarões ficariam felizes ao observar competição entre os peixinhos, pois, quanto mais os peixinhos se de gladiavam, mais recursos os tubarões garantiam e acumulavam. Haveria prêmios para os melhores nadadores – lindas medalhas de algas, ornamentadas com coentro e pimenta, que aumentariam o apetite dos tubarões. Haveria também colaboração entre os peixinhos, porém toda solidariedade seria para manter os peixinhos dentro da correnteza que direcionariam todos ao mesmo sentido – engordar os tubarões.
Se os tubarões fossem Homens, eles fariam os outros peixes acreditarem no mito do peixinho salvador, capaz de trazer uma vida mais feliz para todos os peixes. Seria uma grande enganação, já que os tubarões usariam dessa estratégia apenas para manter os peixinhos desorganizados, sem discutirem um projeto de vida aquática elaborada coletivamente. Alguns peixinhos gritariam por REVOLUÇÃO, outros por REFORMAS, porém todos seriam rotulados como vermelhos e sofreriam duras sansões. Nesse sentido, os tubarões manteriam viva uma suposta ameaça vermelha, ainda que a maior parte dos peixinhos nem soubessem o que seria esse tal pigmento vermelho, como forma dos peixinhos não conversarem sobre qualidade de vida para TODOS os peixes. Os tubarões permitiriam que os peixes oprimidos construíssem escolas para jovens, adultos e idosos peixinhos, inclusive reservariam recursos para a criação e manutenção dessas escolas, como forma de conter a revolta dos peixinhos com tanta miséria e desigualdade. Essas escolas seriam bem diferentes das escolas dos tubarões. As escolas dos peixinhos ensinariam a nadar direitinho, com sensação de liberdade, preferencialmente sozinhos, sempre na correnteza dos rios e nas correntes marinhas, obedientes a lei e a ordem, e seguindo tradições e bons costumes. Enquanto nas escolas dos tubarões ensinariam a manter a estrutura social vigente, ou seja, manter os peixinhos nas correntes que levam diretamente as enormes bocas dos tubarões.
Se os tubarões fossem Homens, chegaria o dia em que não haveria correntes para tantos peixinhos e, aos montes, eles iriam morrendo em águas estagnadas, sem ao menos satisfazerem a farra gastronômica dos tubarões. Imediatamente, após esse dia, os tubarões perceberiam um sabor amargo na água, e também nos peixinhos, através de Floração de Algas Nocivas, também conhecida como Maré Vermelha. Nesse dia, os peixinhos tomariam consciência da sua condição de “nadador para bocas de tubarões” e nadariam segundo suas próprias direções. Nesse lindo dia, os tubarões reconheceriam que também são peixes.
Assim funcionaria o capitalismo aquático, se os tubarões fossem Homens.