(Texto escrito e narrado durante a 3ª Conferência Livre de Saúde em Manguinhos, em 24 de julho de 2021 )
Otto Lara Rezende disse certa vez:
“O mineiro só é solidário no câncer”.
Como pode essa afirmação, sem nenhum “talvez”?
Naquilo que não se pode vencer.
É fácil ser solidário com um indivíduo,
que morre aos poucos, sem qualquer possibilidade de cura.
A quem se despede da dor, é fácil confortar e ser assíduo.
Difícil é se fazer presente na loucura.
Quero ver ser solidário com o conjunto de trabalhadores,
que também morrem aos poucos, mas que acreditam em “capitalismo humanizado”.
Quero ver solidariedade com os alienados, a serviço dos colonizadores,
do povo que se diz “cristão de direita civilizado”.
Falo de solidariedade em um sistema político que nos oprime.
Falo de um sistema que nos tampa os ouvidos, cala a voz, e embaça a visão.
Falo de uma estrutura social e econômica que nos deprime.
Falo da possibilidade em acumular riqueza: banqueiro, empresário, patrão.
Falo de desigualdade e dominação.
Falo da privatização, com propriedade e embasamento,
de quem busca transformação e não reprodução,
de um modo de vida que nos violenta a todo momento:
Sofremos quando crianças, sem entender por que nos batem ou somos abusados.
Sofremos quando jovens, sem querer entender por que a polícia nos humilham ou nos torturam dentro das favelas.
Sofremos calados.
Já vimos essas novelas.
Sofremos quando adultos, quando não conseguimos trabalho suficiente para a sobrevivência da nossa família.
A esse exército de contingência, não há trabalho para todos os trabalhadores.
Sofremos quando mulheres são vítimas do machismo de um “pai de família”.
Sofremos com “políticos mercadores”.
Sofremos quando negros/as encontram balas “perdidas”.
Sofremos quando seres humanos tornam-se desumanos ao observar gesto de amor entre 2 homens ou 2 mulheres.
Sofremos isoladas e divididas.
Sofremos com o não reconhecimento de nossos saberes.
Sofremos quando os gestores dos serviços públicos não subvertem (ou não tentam subverter) a precarização, em favor dos usuários.
Sofremos quando nossos vizinhos/colegas de trabalho não querem discutir política.
Sofremos com o silêncio, com a indiferença, com a passividade de vários.
Sofremos quando “não conseguimos respirar” (falta crítica).
Sofremos quando idosos, quando não conseguimos realizar consultas/exames médicos ou remédios para aliviar nossas dores.
Lutar não apenas para sobreviver.
Não podemos ser meros expectadores.
A história precisamos reviver.
O que representa “minuto de silêncio”, para quem nada fala?
De que vale o silêncio frente a intenção de quem nos mata?
O momento é de revolta (coletiva) diante da barbárie em ponto de bala.
Manifestação ainda que tardia… fora todo meritocrata.
A boa notícia é que essa doença (capitalismo) tem cura.
Começa com solidariedade (de classe) e participação popular.
Movimento “anticapitalista” de superação da violência estrutural obscura.
Termina com revolução, para o povo articular.
Poder popular não combina com democracia representativa,
tão pouco com justiça burguesa.
Poder popular se constrói com luta de classe ativa.
Mantemos a chama da revolução acesa.
Avante camaradas… Somos gente que cuida da gente.
Portanto, esperança e foco no problema principal.
Trabalho de base conquistando coração e mente.
Já lembrava Sr. Beserra: DERRUBAR O CAPITAL!!!