A gente vai se acostumando…
(Inspirado no texto “Acomodação”, de Marina Colasanti)
Roberto Eduardo Albino Brandão
A gente se acostuma a quase tudo, mas não deveria.
A gente se acostuma a morar em um lugar poluído. E porque está poluído, logo se acostuma a não reclamar com o morador ou a empresa que polui nosso solo, rios e ar. E a medida que se acostuma com os poluentes, esquece o quanto é importante viver num ambiente saudável.
A gente se acostuma com Fast food. A engolir a comida, sem pensar nas necessidades nutricionais. Com o doce concentrado, a gordura saturada, ao excesso de sódio, esquecendo da diversidade de sabores. E a beber refrigerante ao invés de água.
A gente se acostuma a ficar doente e a enfrentar longas filas na unidade de saúde ou para fazer um exame, sem pensar nos motivos que causaram a doença ou na responsabilidade do poder público. A fala bonita dos políticos em época de eleição. E ao descaso com a população depois que os políticos são eleitos.
A gente se acostuma com a falta de segurança. Aos tiroteios constantes e a perda de amigos. Ao medo de ser a próxima vítima de bala-perdida. Aos cadáveres no caminho e aos gritos das mães que perdem seus filhos.
A gente se acostuma a ver televisão. Aos casos de corrupção. Ao sofrimento humano diário. Ao anuncio do tênis ou da roupa, desejando a marca mais do que o produto. A pagar o preço anunciado, baseado apenas na propaganda, sem pensar se vale a pena. E a pagar muito mais do que as coisas realmente valem.
A gente se acostuma a vir para a escola, só porque alguém mandou. A não prestar atenção na aula. A dificuldade de ler e escrever. A não perguntar, quando temos dúvidas. A ser zoado pela galera. Ao desrespeito. A não reclamar. A furar fila. A sala suja. A jogar videogame o dia todo. A ouvir música alta. A não ir à praia ou ao teatro. A não sorrir. Ao medo. E à medida que vamos nos acostumando com as coisas, esquecemos que essa nossa acomodação nos mantém sempre no mesmo lugar.
E você? Com o que está acostumado, mas que não deveria? Acha que juntos podemos transformar a nossa realidade?